terça-feira, 17 de março de 2015

DIÁLOGO DEL ESPEJO







DIÁLOGO DEL ESPEJO


enquanto Pessoa se escanhoa
surge-lhe Caeiro e a metafísica
inquieta-lhe talvez a vida dupla

haveria um sentimento de culpa
de nem sempre ser ele mesmo?

coisas de poeta. A pele áspera
se oferece à lâmina afiada
e o diálogo lento se trava

que me diz, Caeiro, sua obra
com que fingidamente filosofa?

bem sabes tu, falso mestre,
toda palavra é em si fictícia
nada do que digo é o que digo

diz isto, pois existe só em jogo
diante de mim, modelo-reflexo

não te peço que me creias
tu que, escondido em faces alheias,
não te aceitas como não és

Enquanto o tempo se escoa
Pessoa se cala. Tudo o mais são papéis.


Marcus Vinicius Quiroga






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