ARQUITETURA
E ASAS
Quem
planeja, desenha limiares,
não
superfícies fechadas, paredes,
não
toldos, telhas, tetos, mas áreas
que
se soltam das linhas das maquetes
No
ofício de ver o ainda invisível,
argamassa
desejos com pó de asa,
porque
dentro de toda pedra vive
o
avesso da pedra, de nome audácia
Quem
habita, joga no espaço uma âncora,
sente
o peso do porão e fantasmas,
entra
em contato com o que havia antes,
que
o tempo é também uma espécie de casca
Logo
quem habita uma casa, habita
os
dias que se abrem em quartos, salas
com
janelas de fundos, cuja vista
é
paisagem interna, temporária
Quem
planeja, desenha perspectivas,
não
supõe o inesperado despejo,
interdito
de muros, cerca viva,
separação
sem recurso ou apelo,
traça
no papel a vida viável,
o
chão que nasce através dos passos,
com
arquitetura que se sabe ave
e
não se prende às regras da sintaxe
Quem
habita, habita limiares
como
se para além da régua e compasso
houvesse
a morada solta nos ares
dentro
de insuspeitos tempos e espaços
Quem
do concreto um dia se desgarra
faz
casas só de sonhos e presságios
Marcus Vinicius Quiroga
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