domingo, 22 de março de 2015

DESERTO SEM ARREDORES





















DESERTO, SEM ARREDORES
 (A língua dos desertos)


a geografia do deserto
não se sujeita a mapas,
não se explica em pesquisas.

há desertos que diferem
das descrições e fotografias,       
como se terra exótica.

é feito de outra areia
que, supostamente mais fina,
cega mais fácil as vistas.

não tem oásis, nem miragens,
nenhuma hipótese de especulação,
de intervalo em sua calmaria.

lá todo navio fantasma
encalhou há muito e já fina,
sem ruído de motor, sem partida.

o deserto não se faz só de sol
ou do lume de que aproveita,
mas queima quem acaso o habite.

este deserto não é feito de círculos,
nem de delírios que acontecem
aos que o aceitam como desafio.

existe latente no homem que segue
entre um sertão e outro, em busca
de si mesmo, com o tato cego,

e não encontra nada além de areia
que o vento espalha à revelia
e o deserto acrescenta desertos, em teia.


 Marcus Vinicius Quiroga





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