sábado, 7 de março de 2015

TODAS AS MEMÓRIAS






















TODAS AS MEMÓRIAS
 (Vida, a respeito de) 

Haveria a máquina da memória
esquecida num deserto, entreaberta
que, sendo objeto ou só metáfora,

me faz dar voltas no tempo, à deriva,
tendo nas mãos antiga ampulheta
como se a areia presa fosse pássaro

e eu me tornasse através de espelhos
alice de meus destinos e seus inversos
a recompor paisagens jamais vistas

a me redesenhar na folha em branco
em busca de meu ser ou meu suposto,
recolhendo impressões digitais,vestígios

de uma vida que cri ser só lembrança
foto num álbum nos porões do tempo
atrás das paredes do sono, a não-voz

e um dia repassando por meus passos,
súbito me saber outra vez em uma estrada
onde tinha me acostumado a me ver só

mas agora distinguir entre fotos, fantasmas
fisionomias familiares, acontecimentos
que por hábito julguei ser eu mesmo

embora ciente de que sem máscaras
nos meus mais íntimos silêncios
sou bússola quebrada movendo-se a esmo

que máquina possível me resgata
não mais o pássaro e sim seu voo,
não a ampulheta, mas a hora vazia

para haver o zero ainda na memória
sem ontens, sem antes, só agora
plataforma permanente de partida?

e se me reconheço em tantos rostos
em suas marcas, cicatrizes, rugas
sei que sou o que de mim me lembro

e se lentamente a areia escorre
aceito a morte, não como quem morre
mas como vida que se transmuta em vento



 Marcus Vinicius Quiroga














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