TODAS AS MEMÓRIAS
(Vida, a respeito de)
Haveria
a máquina da memória
esquecida
num deserto, entreaberta
que,
sendo objeto ou só metáfora,
me
faz dar voltas no tempo, à deriva,
tendo
nas mãos antiga ampulheta
como
se a areia presa fosse pássaro
e
eu me tornasse através de espelhos
alice
de meus destinos e seus inversos
a
recompor paisagens jamais vistas
a
me redesenhar na folha em branco
em
busca de meu ser ou meu suposto,
recolhendo
impressões digitais,vestígios
de
uma vida que cri ser só lembrança
foto
num álbum nos porões do tempo
atrás
das paredes do sono, a não-voz
e
um dia repassando por meus passos,
súbito
me saber outra vez em uma estrada
onde
tinha me acostumado a me ver só
mas
agora distinguir entre fotos, fantasmas
fisionomias
familiares, acontecimentos
que
por hábito julguei ser eu mesmo
embora
ciente de que sem máscaras
nos
meus mais íntimos silêncios
sou
bússola quebrada movendo-se a esmo
que
máquina possível me resgata
não
mais o pássaro e sim seu voo,
não
a ampulheta, mas a hora vazia
para
haver o zero ainda na memória
sem
ontens, sem antes, só agora
plataforma
permanente de partida?
e
se me reconheço em tantos rostos
em
suas marcas, cicatrizes, rugas
sei
que sou o que de mim me lembro
e
se lentamente a areia escorre
aceito
a morte, não como quem morre
mas
como vida que se transmuta em vento
Marcus Vinicius Quiroga
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