A PALAVRA NEBLINA
(Composições em preto e branco)
A favorita das palavras
é a espanhola de cor blanca,
ou, por que não dizer?, neblina.
No reino lá dos mil verbetes,
postos em livros-referência,
se esconde sob o pó, nas quinas.
Surge no texto de repente,
como se fosse anacoluto,
interrompendo expectativas.
De tal maneira cega a todos,
que até paisagens se embaralham,
como se em quadro impressionista.
No entanto, quando dita às claras,
o som encanta, independente
de uma precisa ou não leitura.
Neblina aponta para estradas,
sugere naus, digo, viagens,
na escuridão durante fugas.
Ao esconder passos que partem
ou ao tornar estradas lentas,
toda neblina se faz dupla.
Mas a palavra que hoje surge
tem a luz própria de poetas
que fazem na névoa a procura.
Marcus Vinicius Quiroga
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