Marcus Vinicius Quiroga
PÉROLA IRREGULAR
(O xadrez e as palavras)
se não fosse o poema exaspero
da forma que se busca áspera,
se não fosse a pedra que se torce
não-linear como um certo Borges
a arte se esqueceria inércia
e em si mesma teria o desfecho
antes seja esta anti-récita
esta linha de fuga, este êxodo
antes seja a pintura a têmpera,
um quadro que a si mesmo pensa
e de tal maneira se reflita:
escrita sobre a escrita da escrita
que afaste do texto o supérfluo,
o que sendo a mais é deficit
ainda que a linha trace a hipérbole
no desenho irregular da pérola,
qual um símbolo de arte inquieta
que ama a vida e compõe réquiem
antes seja esta arte que encontra
em si o favorável e o contra
para que mantenha sempre o diálogo,
ainda que com palavras ásperas
ainda que quando feita matéria,
tenha a obsessão da réplica
e discorde de ser perfeita pérola
e cuspa na arte que se quer Belo
porque posta irregular tem gula
de inversões, interrupções, anacolutos
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