ENGAGÉE
(Gullar Gullar)
O
poeta toma partido:
-
Como ser neutro? Como ser outro?
O
país precisa de quem procure
a aurora
Não
se sabe de seu paradeiro
Foi
vista pela última vez
nas mãos de um operário,
no
coração dos mais vários cidadãos,
porque a aurora
não
tem dono,
como
os latifúndios vazios
Desapareceu
numa rádio-patrulha
sem
pista,
sem
testemunha
O
poeta entra no partido.
No
momento em que muitos se escondem
ele
assina a filiação
O
corpo franzino não tem medo
de
telefone,
de
pau de arara,
de
cadeira de dragão
Ele
agora usa a estrela-estigma
no peito
como
um judeu,
um
homossexual
Sua
estrela é o peito aberto,
onde
mal cabe
o
coração desnecessário
Mas
seu coração cresce
como
no poema de Drummond
e
forma uma corrente:
o texto passa de mão em mão
como
se um alimento
Mas
muitas bocas sem dente
estão fechadas para palavras
O
poeta é partido.
Uma
parte é presa
presta depoimento
escuta
ameaças
depois é solto
e
repartido
como
hóstia
entre
os leitores, que dobram a cada discurso
Outra
parte
permanece
com a família
e leva o menor ao circo,
ao
algodão doce, ao palhaço
o
outro vai às acrobacias,
ao
globo da morte,
ao equilíbrio no arame
Acredita
no trapézio no ar
e nas mãos dos homens
Utopia
é seu codinome
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