quarta-feira, 1 de abril de 2015

AR AZUL, MAR AZUL, MARCOS AZUL




















Marcus Vinicius Quiroga

AR AZUL, MAR AZUL, MARCOS AZUL


O azul de Chagall
me lembra a vida
ou pelo menos um dia
                                em frente ao mar

e eu pequeno
eu perplexo
habitado por indagações

Se bem recordo
o ar era azul e o mar ora batia
indiferente
na antiga murada
ora se desfazia em espuma em Ipanema

Alheio à perda,
alheio à fuga de Marcos
            a água não trava diálogo
            apenas permanece em sal falsa
            eternidade

Mas a água não
sacia
         todos os desertos
         há quem precise do álcool ou do ácido
         e a química sequela
         seca
         a água vital que flui nos corpos

        e olhares áridos
não avistam mais a vida
pelas janelas
e tateiam a anestesia do silêncio
supostamente branco

muito mais branco do que a espuma
que me encanta no mar

em seu movimento contínuo
e desprovido de intenções
  
Ora era o azul, o sujo azul de São Luís
no menino dos idos trinta
que sequer antevia
que se encontraria agora diante de outro mar
          à espera de uma explicação
          que viesse com as ondas

O ar era de um azul tão cinza
quando um outro menino
           com pouco mais de trinta
           se afogou em si mesmo,
           abismo fundo
                               e sem boia

Não legou resposta
apenas mais uma dor na gaveta de tantas perguntas

Trago o azul de Chagall na memória
de visitas a livros, a museus
que até me parece íntimo

Antes não era o azul da morte
mas da dissolução, da amena dissolução
no espaço arbitrário
                             de sua arte

Agora este azul
se sobrepõe a tantos azuis
São Luís – Rio - exílios
e mostra que homens levitam
              sem terem asas ou ciência

Em frente ao mar penso
em Marcos Azul
                      como vida que levita
                               fora
                               do alcance das mãos

mas tão próxima de meus ossos
       tão dentro de minha carne,
       que também levito (ou pareço)

nesta tarde em Ipanema
sem nenhum alarde
               apesar do peso
                                     que não carrego nos ombros

mas na sombra de meu olhar 



















Nenhum comentário:

Postar um comentário