Marcus Vinicius Quiroga
AR
AZUL, MAR AZUL, MARCOS AZUL
O
azul de Chagall
me
lembra a vida
ou
pelo menos um dia
em frente ao
mar
e
eu pequeno
eu
perplexo
habitado
por indagações
Se
bem recordo
o
ar era azul e o mar ora batia
indiferente
na
antiga murada
ora
se desfazia em espuma em Ipanema
Alheio
à perda,
alheio
à fuga de Marcos
a água não trava diálogo
apenas permanece em sal falsa
eternidade
Mas
a água não
sacia
todos os desertos
há quem precise do álcool ou do ácido
e a química sequela
seca
a água vital que flui nos corpos
e olhares áridos
não
avistam mais a vida
pelas
janelas
e
tateiam a anestesia do silêncio
supostamente
branco
muito
mais branco do que a espuma
que
me encanta no mar
em
seu movimento contínuo
e
desprovido de intenções
Ora
era o azul, o sujo azul de São Luís
no
menino dos idos trinta
que
sequer antevia
que
se encontraria agora diante de outro mar
à espera de uma explicação
que viesse com as ondas
O
ar era de um azul tão cinza
quando
um outro menino
com pouco mais de trinta
se afogou em si mesmo,
abismo fundo
e sem boia
Não
legou resposta
apenas
mais uma dor na gaveta de tantas perguntas
Trago
o azul de Chagall na memória
de
visitas a livros, a museus
que
até me parece íntimo
Antes
não era o azul da morte
mas
da dissolução, da amena dissolução
no
espaço arbitrário
de sua arte
Agora
este azul
se
sobrepõe a tantos azuis
São
Luís – Rio - exílios
e
mostra que homens levitam
sem terem asas ou ciência
Em
frente ao mar penso
como vida que levita
fora
do alcance das mãos
mas
tão próxima de meus ossos
tão dentro de minha carne,
que também levito (ou pareço)
nesta
tarde em Ipanema
sem
nenhum alarde
apesar do peso
que não
carrego nos ombros
mas
na sombra de meu olhar
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