segunda-feira, 13 de abril de 2015

A DESTRA E AS SINISTRA


                           Marcus Vinicius Quiroga



A DESTRA E A SINISTRA
(O xadrez e as palavras) 


tudo o que a destra sabe
nada sabe a sinistra
esta não vê o que aquela
esconde, como se carta

o que a destra trapaça 
paga a sinistra em moedas
uma não teme o jogo
que outra julga não dar na vista

a destra sabe a palavra
precisa (se é que existe) 
aquela jamais se fia 
em texto que se crê a salvo 

a destra acaba a frase, 
com destreza de agulha e linha, 
mas a sinistra não passa
linha clara em agulha escura

que a direita não veja
o que faz a esquerda 
enquanto uma se acumula  
de prata, a outra é perda

muitos os danos na lista
de um mundo que pouco presta
ora se inquieta a sinistra,
ora se angustia a destra

ainda que juntas estas duas
dão passos tão diversos
parecem andar em círculos,
em particular deserto

fosse a destra o contrário,
assim seria a sinistra
para que a disputa se desse
além de qualquer limite

se uma de tudo diverge
a outra só desconcilia
e diz no verso o inverso
do que, supõe, antes diria

sorte de quem, ambidestro,
escreve com as duas mãos,
porque bem presto alterna
o dito com o dito não

e terá também por sentença
este movimento eterno
de seguir o que a destra pensa,
de fazer o que ela julga certo

mas acatando a sinistra
nas orientações ambíguas
de modo que se contradiga
em toda e qualquer escrita













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