Marcus Vinicius Quiroga
A DESTRA E A SINISTRA
(O xadrez e as palavras)
tudo o que a destra sabe
nada sabe a sinistra
esta não vê o que aquela
esconde, como se carta
o que a destra trapaça
paga a sinistra em moedas
uma não teme o jogo
que outra julga não dar na vista
a destra sabe a palavra
precisa (se é que existe)
aquela jamais se fia
em texto que se crê a salvo
a destra acaba a frase,
com destreza de agulha e linha,
mas a sinistra não passa
linha clara em agulha escura
que a direita não veja
o que faz a esquerda
enquanto uma se acumula
de prata, a outra é perda
muitos os danos na lista
de um mundo que pouco presta
ora se inquieta a sinistra,
ora se angustia a destra
ainda que juntas estas duas
dão passos tão diversos
parecem andar em círculos,
em particular deserto
fosse a destra o contrário,
assim seria a sinistra
para que a disputa se desse
além de qualquer limite
se uma de tudo diverge
a outra só desconcilia
e diz no verso o inverso
do que, supõe, antes diria
sorte de quem, ambidestro,
escreve com as duas mãos,
porque bem presto alterna
o dito com o dito não
e terá também por sentença
este movimento eterno
de seguir o que a destra pensa,
de fazer o que ela julga certo
mas acatando a sinistra
nas orientações ambíguas
de modo que se contradiga
em toda e qualquer escrita
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