quinta-feira, 9 de abril de 2015

DUPLOS




















Marcus Vinicius Quiroga


DUPLOS
(O xadrez e as palavras)


a traça no papel apaga o poema
que se traça no papel à revelia

estranha visão nos dá tal cena:
a traça e seu papel que contraria

o que se espera que um poema faça
ou seja, escrever linha e mais linha

e jamais desescrever como uma traça
que destrói as letras e deixa à míngua

o poema que carece de palavras
para usá-las como quem dispõe de peças

que fazem parte do motor ou máquina,
caso seja o texto plausível peça

e quando o poeta mexe do texto as peças,
visando ao xeque-mate, ao fim do jogo,

a traça, por sua vez, para pregar peça,
mexe-se interina nas palavras do outro 

e, se o sentido súbito desaparece,
ou se ele se torna dúbio e confunde,

que ele peça desculpas e não peça,
que esta é a sina do sentido no mundo

ser sinal do que o poeta pensa que traça
e ao mesmo tempo de tudo estar vazio

como quem parte sem deixar traço
e permanece no poema, em todos os fios,

ou não seria a arte esta queda de braço
entre o um da razão e o duplo do delírio







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