Marcus Vinicius Quiroga
DUPLOS
(O xadrez e as palavras)
a traça no papel apaga o poema
que se traça no papel à revelia
estranha visão nos dá tal cena:
a traça e seu papel que contraria
o que se espera que um poema faça
ou seja, escrever linha e mais linha
e jamais desescrever como uma traça
que destrói as letras e deixa à míngua
o poema que carece de palavras
para usá-las como quem dispõe de peças
que fazem parte do motor ou máquina,
caso seja o texto plausível peça
e quando o poeta mexe do texto as peças,
visando ao xeque-mate, ao fim do jogo,
a traça, por sua vez, para pregar peça,
mexe-se interina nas palavras do outro
e, se o sentido súbito desaparece,
ou se ele se torna dúbio e confunde,
que ele peça desculpas e não peça,
que esta é a sina do sentido no mundo
ser sinal do que o poeta pensa que traça
e ao mesmo tempo de tudo estar vazio
como quem parte sem deixar traço
e permanece no poema, em todos os fios,
ou não seria a arte esta queda de braço
entre o um da razão e o duplo do delírio
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