quinta-feira, 2 de abril de 2015

POEMA PARA TRIâNGULOS E PÍFANOS


















Marcus Vinicius Quiroga


POEMA PARA TRIÂNGULO E PÍFANOS
 (A língua dos desertos)

homem aqui não tem feições,
nem tempo para sentimentos.
anônimo, se vê circunscrito,
como se dentro de parênteses,
ou por que não dizer do curral
ao lado de outras crias,
sem saber que a existência
só se dá na área das cercanias.

homem se forja é na solidão,
encolhido no corpo avaro.
se habita meio sem jeito,
sem nenhum tipo de espalhafato.
proseia pouco e só se repete.
só diz sobre o que está a alcance:
palavras dão certo embaraço,
saem difíceis da garganta.

no diário tem só ocupações,
que outra não é a sina.
engole o insosso do tempo,
como se feijão com farinha.
nunca ouviu coisa de esperança
ou que tivesse tal feitio;
se parece com galo cego
posto em ininterrupta rinha.

quando morrer (e não custa),
é levado em qualquer rede,
despejado em cova rasa,
sem direito a última queixa.
morrerá cedo (é o provável)
e caso tenha prole e viúva
legará só o mugido do boi,
nenhuma espécie de música.









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