Marcus Vinicius Quiroga
POEMA PARA TRIÂNGULO E
PÍFANOS
(A língua dos desertos)
homem aqui não tem feições,
nem tempo para sentimentos.
anônimo, se vê circunscrito,
como se dentro de parênteses,
ou por que não dizer do curral
ao lado de outras crias,
sem saber que a existência
só se dá na área das cercanias.
homem se forja é na
solidão,
encolhido no corpo avaro.
se habita meio sem
jeito,
sem nenhum tipo de
espalhafato.
proseia pouco e só se
repete.
só diz sobre o que está
a alcance:
palavras dão certo
embaraço,
saem difíceis da
garganta.
no diário tem só
ocupações,
que outra não é a sina.
engole o insosso do
tempo,
como se feijão com
farinha.
nunca ouviu coisa de
esperança
ou que tivesse tal
feitio;
se parece com galo cego
posto em ininterrupta
rinha.
quando morrer (e não
custa),
é levado em qualquer
rede,
despejado em cova rasa,
sem direito a última
queixa.
morrerá cedo (é o
provável)
e caso tenha prole e
viúva
legará só o mugido do
boi,
nenhuma espécie de
música.
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