Marcus Vinicius Quiroga
A PALAVRA NEBLINA
(Composições em preto e branco)
A neblina embaça o discurso:
tudo dúbio. Nada se sabe
às claras. A frase enfim para,
espera; parece uma fruta,
natureza imóvel na tela.
A neblina é lâmina fina:
separa a paisagem em duas;
e espalha manhãs antes da hora,
como dias feitos de névoa,
que no asfalto sólido escorrem.
A neblina não é palavra
que baste, mas faz incertezas
na página. E não deixa rasto,
quando parte de vez da cena:
some como em número mágico.
A neblina apenas traz dúvidas:
o gosto da fruta que escorre
na boca ou é a metáfora
que parece intacta na cesta,
realimentando o enigma.
Nenhum comentário:
Postar um comentário