Marcus Vinicius Quiroga
PASSAPORTE
(Passaporte para o país das palavras)
A maioria dos
países me pede o passaporte
quer minha
identidade, a foto,
a assinatura,
como fiscal ou
polícia de qualquer lugar
Poucos têm acordo
com meu país
e dispensam a
formalidade
Visam meu
passaporte em inúmeras línguas
antes da
autorização de entrada
e os carimbos vão
formando
meu histórico,
como se eu fosse
mudando de tamanho
a cada país
visitado
Sou do tamanho do
que vi
ou do que
supostamente conheço
Não caibo mais em
meu quarto de hotel
nem no meu
vocabulário
Preciso de palavras
em quantidade
para pensar o
particípio das coisas:
o visto, o vivido,
o sentido
Anotam nome,
número, nacionalidade
e procedência,
entretanto não me
detenho nestes substantivos
Passaporte para
mim,
contrariando a
gramática,
é verbo
e sabe malabarismos
de salto
e tem desejos de voo
Percebo um dia que
só não há exigência
de passaporte
para a viagem a mim
mesmo:
território com
névoa,
com o tempo nem
sempre propício ao pouso,
e com aterrissagem
obrigatória
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