domingo, 5 de abril de 2015

PASSAPORTE PARA O PAÍS DAS PALAVRAS


Marcus Vinicius Quiroga 


PASSAPORTE
(Passaporte para o país das palavras)

A maioria dos países me pede o passaporte
quer minha identidade, a foto,
a assinatura,
como fiscal ou polícia de qualquer lugar
Poucos têm acordo com meu país
e dispensam a formalidade

Visam meu passaporte em inúmeras línguas
antes da autorização de entrada
e os carimbos vão formando
meu histórico,
como se eu fosse mudando de tamanho
a cada país visitado

Sou do tamanho do que vi
ou do que supostamente conheço
Não caibo mais em meu quarto de hotel
nem no meu vocabulário
Preciso de palavras em quantidade
para pensar o particípio das coisas:
o visto, o vivido, o sentido

Anotam nome, número, nacionalidade
e procedência,
entretanto não me detenho nestes substantivos

Passaporte para mim,
contrariando a gramática,
é verbo
e sabe malabarismos de salto
e tem desejos de voo

Percebo um dia que só não há exigência
de passaporte
para a viagem a mim mesmo:
território com névoa, 
com o tempo nem sempre propício ao pouso,
e com aterrissagem obrigatória






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