Marcus Vinicius Quiroga
XADREZ DE ESTRELAS
(Composições em preto e branco)
O texto se fez de metáfora em metáfora,
como pedras que tornam a estrada mais lenta,
a vagarosa estrada de Minas, a máquina
do mundo, em seu estado de perplexidade.
A escrita exige a cifra do segredo, o escuro
que requer releituras com muito cuidado.
Cabe a quem trova ser porta-voz de uma época,
logo nas fases mais obscuras das histórias,
os poemas se fazem fechada matéria.
Mas talvez tudo seja questão de aparência
e as estrelas estejam tão perto de nós,
que nos ceguem de luz temporariamente.
A estrada se faz em poema com névoa,
se faz à sombra de Drummond, mais vasto mundo,
e pela noite longa não se desespera.
Espera paciente que, depois da curva,
alguma luz se faça e os guie adiante,
ainda que a explicação da vida seja absurda.
Mundo é máquina que em pouco tempo enferruja
e, posta à margem, é só um brinquedo inútil,
de encontro ao qual se vai nas horas mais escuras.
O texto se desfaz na última metáfora:
O xadrez do Vieira não basta ao leitor,
que outros são os enigmas, o país, o áporo.
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