segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

UM PINTOR DIANTE DE UM QUADRO COM UM PINTOR DIANTE DE UM QUADRO

























UM PINTOR DIANTE DE UM QUADRO
COM UM PINTOR DIANTE DE UM QUADRO
(Campo de trigo maduro)


o artista se angustia em frente à tela:
tudo que traça no branco se esvai
em outra ausência que também revela
uma pintura antes da tela, atrás

mas que cores são estas? que miragem?
na textura da tela a mão não as sente
e os críticos com teorias não acham
como explicar vermos o que é ausente

a palheta risca um fino desenho,
cega trajetória pelo vazio,
buscando um mundo sem saber a senha
nem os limiares de seu domínio

outras formas surgem, imergem imóveis
traindo a expectativa dos olhares
que se surpreendem por razão à lógica
com a pintura que é única e vária

o artista se angustia em frente à tela
as ideias não cabem na moldura
mas cabem como se dentro da cela
houvesse a liberdade que se expulsa

e que arte se biparte ou se bifurca
em veredas, afluentes e margens
sendo mais verdadeira quando oculta
e, mais ocultando, quando mais age?

mas se não reconhece a figura,
seria este quadro obra de magia,
criado por pincéis e mãos de bruxa
de uma luz que esconde de tão sombria?

ou seria uma pintura inquieta
que se visse como se ouvisse música
e o pintor fosse na tela o poeta
que somente assina a obra, se inconclusa?


 Marcus Vinicius Quiroga


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