segunda-feira, 11 de maio de 2015

ESTILÍSTICA DA REPETIÇÃO











Marcus Vinicius Quiroga


ESTILÍSTICA DA REPETIÇÃO
(O engenheiro do ar)

O poeta pondera:
o pão, os farelos postos na mesa.
Tudo é alimento.

Qual o gosto do prosaico
ou o sumo do metafísico?
Os papéis em branco não fazem diferença.

O homem se reparte mas não se exclui.
Águas tão distintas
convergem em nós na mesma corrente.

Existe hora adequada
para certo tipo de verso?
Ou qualquer um os subterrâneos desvenda?

O poeta procura
palavras pouco usuais
para efeito de surpresa e suspense.

Faz-se de prestidigitador
e escreve coisas estranhas
nas quais nem ele mesmo pensa.

Que analogias há
entre um campo, um chinês
e o sono, por exemplo?

O texto se mexe,
com o propósito de hipnose,
feito um pêndulo.

O poeta pergunta.
O tempo todo inquire sobre coisas
como a matéria da vida, o tempo.

Parece que circula
ao redor dos mesmos temas
e de questões aparentemente pequenas.

Mas se repete
com tal gosto e maestria,
como se escondesse outro intento.

Sua voz é calma,
quando solta seu poema-pipa
no espaço em branco do vento.








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